segunda-feira, maio 12, 2014

a boca seca como se carecesse de razão
com a sede a que se busca água, busca-se, buscasses, o que falar como se se justificasse
e um pouco se justificava, mas não era água que lhe buscava
ao falar quase que me calo toda
como se tuas palavras tua boca matassem minha sede e tão longe da minha, longe como o deserto seco de outro, daquele outro continente no qual meu corpo não está contido mais, o seu corpo, o nosso deserto seco do outro, no outro corpo, o nosso corpo, não esse, o outro corpo

como se tudo fosse claro me virei
me virei desobedecendo à ordem dos anjos
me virei de costas e como Sodoma e Gomorra todo pecado cometido, prestes a findo está
me virei de costas e como Babilônia toda língua falada e não entendida desfez-se em sal
desfez-se em sal, fez-se mar e o deserto virou água em minha boca cansada de calar

quarta-feira, dezembro 04, 2013

E só se acalma quando percebe que tentar escrever é como sempre, a busca de sempre
Que o medo de agora é o medo de outrora, de outrem, de sempre
As mesmas angústias, de sempre, os inacabados, os descartados, os esquecidos, os vencidos, os fadados
As frustrações, o tempo passa e as pessoas ficam, ficam assim, medíocres, medíocres, pela metade
Aí o ano termina
Tudo recomeça igual
Mas pior
Há menos tempo por vir
E mais tempo perdido no porvir dos tempos até aqui
Quanto mais se corre, o lado de fora da janela como se corresse mais rápido, ainda corre ao contrário

sexta-feira, março 08, 2013

7

Eu te amo tanto e o nível do mar do meu olhar só sobe. Alaga de arrependimento. Depois escoa subsuperficialmente, em formato de leque me umedecendo por dentro e erodindo a rocha que carrego no peito. Graças a essa força. Toda dor então é alegria, todo pranto seca sob o calor que nunca cessa.

quinta-feira, março 07, 2013

XXV.III.MMXIII


Postumamente escrevendo, como se depois pós plenitude o que coubesse fosse morte.
Depois da fartura, da sensação de preenchimento completo, da ausência de espaços vagos, enfrentar um deserto.
Aqui no alto o ar é rarefeito. Tudo é bonito, mas por dentro toda ressequida. Ressequida mesmo. Ressequida é tão seco quanto declamar Eça de Queiroz e alcançar o topo das paradas de sucesso. Mas, tá reclamando de quê?
De repente de novo somos só eu e eu aqui. A intimidade não é a mesma de quando eu já estava acostumada a desacompanhada ler o mundo lá fora.
Monto um clima, uma ambientação. Simulo conforto. Ao fim de um expediente tedioso, não é difícil se conformar. Não negaria o prazer de estar aqui novamente. As mesmas músicas. O nome do livro. O lugar mental. A confort zone.
A mesma pessoa.
Mais lugares e mais e mais o mundo cresce. (A globalização tem o poder da compactação espaço-temporal, pensem nisso.)
Mais lugares e menos portos seguros. Simplesmente não preciso mais me ancorar a cada baldeação. As melhores viagens nunca terminam. Os destinos mais auspiciosos nunca fazem com que você se sinta em casa.

terça-feira, maio 29, 2012

Hoje eu queria que alguém lesse isso e suspirasse, arrancasse os cabelos, chorasse e risse ao mesmo tempo assim desesperado, sorrisse pro nada, só pra mim.

terça-feira, abril 24, 2012

ai, que saco!
gritei sozinha, soquei as paredes de concreto, pérola aos porcos, desespero inesperado!
à flor da pele, na beira do abismo. aquele frio na espinha, na barriga, na volta pra casa.
ai, que saco!
volta aqui! vamo se pegar no sofá. me deixa! me acende um cigarro? cê tem algum filme no seu computador? meu olho tá borrado? cê gostou do meu cabelo novo? seu casaco é legal. tô vendo você encher meu copo, tá?! aquele disco é mesmo foda. acabou minha maconha. não fala assim comigo.. apaga essa luz. tira essa mão. cala a boca. tenho que ir embora. vou pensar no seu caso.
ai, que saco!
e agora?