domingo, outubro 04, 2009

Tomada por uma virtual lascividade inexplicável.
Quero alguém que me queira por inteira. Que aceite admiravelmente minha falência. Que decodifique a minha poesia que a cada dia mais apodrece enquanto hieróglifo.
Não é mais carência, é fome. Fome que adoece o estômago e enfraquece os ombros. Minha azia crônica é produto de minha acidez já insuportável que satura além de apenas meu sistema gástrico.

Eu não sei se vale a pena procurar o caminho para a própria perda. Sei que vale à pena, mas tenho medo da decepção. Não que eu esteja aqui encontrada em mim mesma. Tô cansada de me explicar. De me gritar a todo mundo que ouse, desconhecedor do pacto eterno que se faz, me dar ouvidos. De, por intensa, me afirmar por extenso nas entrelinhas de quaisquer camas.

Espero pela divina graça de ser descoberta. Como o continente já povoado que sou. Sou índio na América pré-colombiana, disposto a se trocar por inteiro por escambo, por qualquer espelho. Espero. Espero. Espero e jamais esqueço.
Possível que por tão concentrada, sentada em silêncio, olhando pros lados (se não reconheço em seus olhos o latente desejo de ser que me inunde que me inunda) como quem espera por algo que simplesmente não vem porque não existe, nesse olhar me perca em íntimo saudosismo (sim, já fui completa um dia, enquanto me perdia nessa mesma ânsia pelo desequilíbrio da qual nunca mais consegui me livrar), não reconheça a felicidade, como quem se esquece de um rosto que não vê há anos, e escarre em sua face, priorizando prazeres imediatos, pertinentes a esta atual personalidade aparentemente sádica que vos escreve.

A paixão é um vício. E eu um miserável julgando-se livre e independente.

A bebida me enfraquece e é por isso que a evito em determinadas ocasiões. A evito quando sei que não há braços suficientes para me segurarem, não há abraços suficientes para me afagarem. Sou maior do que imaginam na minha pequenez de desproteção, capaz de esvair pelas lacunas de quem não estiver disposto a agarrar-se em mim com a terna firmeza com que se deve socorrer o órfão recém nascido.

Deliciosamente perdida em minha prolixidade, só queria ser porto seguro para quem precisasse e aceitasse entregar sua sobrevivência ao risco da solidez de um náufrago tronco qualquer igualmente lançado à sorte do infinito.

Um comentário:

Ferreira, Lai disse...

Me dói ver '0 pitacos'.

E não venho aqui escrever apenas por estética, mas sim porque, se não há pitacos, falta reflexão.
Mentira, talvez não falte reflexão, falta expressão.
Expresso que queria uma foto daqui, um raio X deste lugar, onde posso me encontrar com todos os náufragos já caídos por terra e que me dão as suas bençãos para que jamais _viram bem? JAMAIS_ siga em paz.
Quero uma foto pra colar no sótão de minha pessoa, que guarda o tal cérebro que só conheço de nome e por doer-me tantas vezes.
Creio que então doerá menos.
Ou, ainda, será uma dor que confunde-se com quaisquer milhões de coisas.