segunda-feira, agosto 23, 2010

Duas horas da madrugada de domingo pra segunda. Típica. Cinzas sujando o teclado, ventilador ligado fazendo voar algumas folhas soltas pelo quarto. Deve ser alguma daquelas cartas de amor que quase matam e depois morrem. Natimortas.

Natimorto: não posso mais me furtar ao impulso de olhar o verso dos maços. Esse Carlton de ontem é Morte. De fato ando meio fúnebre. Sempre me vêm perguntar se tá tudo certo comigo, o que houve. Eu nem sei mais, pra mim tá tudo igual, tá tudo 'bem'. De repente morri e não sei, de repente tô morrendo e isso é corriqueiro, nem percebo.
Tive uma madrugada passada nostálgica. Um amigo de longos anos e longas histórias ao lado. Encontramos um outro amigo, companheiro crucial das minhas antigas noites mais insanas pela cidade, aquelas dos 15 anos. Com ele perdido, um ex-namoradinho, daqueles namoricos de uma semana, que se perdeu na minha memória e pela aparência se perdeu no tempo que não tem piedade de ninguém. Pensando bem, não se perdeu. Queria ser Álvares de Azevedo, deve ter agora seus (ou os dele) vinte e um anos. Portanto, analisando a conjuntura, já é quase um cadáver. Ironicamente morremos, mesmo que desencontrados, de amor. Fingi que não o reconheci, sentei-me à parte, mas onde ainda pudéssemos estar ao alcance visual e sonoro um do outro. Ouvi sua voz e cochichei: "a voz dele é a mesma!" Ah, embarquei sem rumo de novo olhando o céu com alguma Lira dos Vinte Anos ricocheteando dentro da minha cabeça. Quis de novo me sentir salva deitada no colo de um desconhecido que me recitava poemas e se me falava todo em mesóclise. Ali começava tudo, ali eu nascia enfim. Mas e então a Morte, implacável se fazia presente. A última vez em que havia escutado aquela voz, bom, ele talvez nem saiba, mas foi mais uma das noites sem rumo que a parte que me cabe eu nunca vou esquecer e a outra terça parte, sepultada está a sete previamente rejeitados palmos do chão ou quiçá pairando n'outra dimensão qualquer.
Quis fugir.
Entramos no velho pub, que também conheci através dela (o que eu não conheci através dela?), fugindo do frio, que sabe-se, é psicológico. Começou a tocar Lithium. Parece perseguição e da Morte não se pode fugir.
"I'm so happy, cause today I found my friends, we're in my head." Ganhei um abraço que não entendia o que acontecia e eu sentia como se não pudesse ser resgatada. Se ela estivesse ali, estaria como eu, no meio da pista impossível de se ser resgatada. Por isso minha consciência é tranquila. Por isso estive tranquila, estávamos todos juntos na Morte como se nada de mais tivesse acontecido. Mas De repente morri e não sei, de repente tô morrendo (ponto) e isso é corriqueiro, nem percebo.
Tive uma madrugada presente nostálgica.
Duas horas da madrugada de domingo pra segunda. Típica.

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