Reconexão.
É sem dúvidas o termo que se faz e refaz enquanto desfazem na minha cabeça as mais recentes tentativas de preambular um futuro promissor. (Assim como a Laiane, estou esperando que minha vida mude. E como boa ensaísta, penso mesmo até no que pensarei quando mudar.)
Para me sentir mais parte de algo, nada melhor do que usar de minhas tendências latinas e apelar à fagia.
Comê-los-ei até desfigurar-me e estando então desfigurada é que enfim me seria. Não parece fácil de entender. Mas é o brutalmente imediato. É o natural. Quando se é criança, leva-se tudo à boca. Passa-se uma década e é bucal o contato que mais espera-se. Considera-se virgem de algo que sempre foi, diferente dos olhos, o grande portal para com o exterior. Mais dez ou vinte anos, pasme, muita gente ainda com pudores de boca. É por aí que se começa a envelhecer. Recusa-se à boca a palavra e leva-a ao papel formal. Para simbolizar aceitação de ambas as partes, apertam-se as mãos enquanto as bocas, tímidas, apenas ensaiam um sorriso, não muito largo, para não deixar esvair algo que teoricamente não deva. A boca cai em desuso e murcha. Murcha e vira seu próprio túmulo, começa a engolir-se. E ao final é isso, boca comida pela própria boca. E sobre ser assim só dentaduras e sete palmos de terra sabem.
9 comentários:
*o*
Só não esqueça que, depois da comilança vem o vômito.
Esse que também sai dessa mesma boca tão citada.
Ela assusta.
Não que eu queira dar razão para o temor da boca, mas acho que entendo e sinto na pele essa auto-repressão.
Tá, esqueça o antes citado, foi tolice minha.
Queria realmente achar a etimologia do verbo 'comer'.
=/
Desculpe me reter nesse ponto, mas me lembrou uma conversa que tive hoje.
As crianças, por serem naturalmente famintas, vorazes, brutais, por devorarem (e desfigurarem[-se]) o mundo, são verdadeiros perigos para aqueles que já cerraram as bocas, e talvez seja por isso mesmo que tentemos costurar-lhes os lábios cada vez mais cedo.
A cada geração novos Herodes estão trabalhando pra que se calem/matem (dá quase no mesmo) as novas crianças.
Ja viu The Wall (o filme)?
PRECISO ver The Wall.
Precisamos todos.
E isso de levar coisas à boca é uma das primeiras manifestações sexuais do indivíduo, segundo algum desses velhos que escrevem muito. Talvez Freud, não sei mesmo.
Freud era sequelado com esse negócio de manifestações sexuais na infância. Não sei até que ponto concordo.
e nem vi The Wall.
e esse é o recorde de mais comentários em menos tempo de postagem. obrigada. auihauihsae
AHEUHAEUHAEHEAU
Merece, merece.
Hahahaha.. merece, claro!
E vamos ver o The Wall. Vale muito a pena! :)
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